Atenção às inscrições no 3.º CIHEL - 3.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, em setembro de 2015, São paulo, Brasil.
A
importância e a versatilidade da arrumação doméstica
Artigo LXXXI da Série habitar e viver melhor
Infohabitar,
Ano XI, n.º 537
António Baptista Coelho
Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre
"habitar e viver melhor",
na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de
proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os
espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos,
refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e continuamos hoje a desenv«volver uma reflexão sobre os espaços de arrumação
domésticos.
Arrumar muita coisa e apoiar todas as outras funções habitacionais
Arrumar bem, é essencial para se ter uma boa casa
A
capacidade de arrumação doméstica, propriamente dita, porque associada aos
múltiplos e inúmeros objectos de que precisamos e que gostamos de ter nas
nossas casas é uma qualidade do habitar que pode existir:
- ou de forma
claramente suficiente, proporcionando uma significativa facilidade e um
significativo desafogo nos diversos tipos de arrumação que são necessários;
- ou
de forma, pelo menos, minimamente estratégica em determinados pontos-chave
domésticos como será o caso da cozinha, da casa de banho, dos quartos e da
principal zona de tratamento de roupas.
E desde já se refere que na ausência de
uma tal capacidade mínima, já razoavelmente estudada em termos funcionais por
diversos autores, os habitantes terão uma qualidade de vida claramente
diminuída pois na sua casa haverá uma significativa tendência para ficarem
aparentes, rapidamente, atitudes menos sistemáticas de arrumação e,
naturalmente, os reflexos, em termos de menor arrumação, produzidos por modos
de vida mais informais.
Quando
há capacidade de arrumação, há, sempre, pelo menos, o recurso a uma arrumação
aparente que pouco mais é do que esconder a desarrumação; mas em modos de vida
que são, na prática, pouco domésticos, pois são caracterizados por uma reduzida
permanência em casa, esta é uma possibilidade estratégica e oportuna, nem que
seja pela possibilidade que oferece de adiar a verdadeira arrumação para
alturas mais adequadas, por exemplo no final da semana.
A importância básica da arrumação - para lá dos aspetos funcionais
E é
importante ter presente que, praticamente, ninguém aprecia conviver com uma desarrumação
aparente.
O arrumar
de tudo o resto que, para além do mobiliário, preenche as nossas casas exige um
cuidado especial pois, na prática, há diversos tipos de arrumação a considerar,
desde a dos elementos necessários ao dia-a-dia doméstico, aos elementos ligados
à vivência semana-a-semana, e mesmo a elementos específicos associados a uma
arrumação personalizada e especializada.
Simplificando
esta matéria há que pensar, na cozinha, em arrumar tudo aquilo de que se
necessita para cozinhar e para apoiar as refeições, mas aqui temos grande ajuda
de toda uma indústria funcional-decorativa que nos propõe até verdadeiros
sonhos de cozinhas cujos únicos problemas são o preço e o espaço que
ocupam; e vale a pena sublinhar que é possível ser económico e proporcionar
tudo aquilo que além de necessário proporciona um óptimo ambiente de vida.
Fig. 01: Uma cozinha cuja capacidade de arrumação constitui claro fator de atratividade e apropriação - interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 4, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
Da cozinha que nos serve à montra-cozinha
E há,
até, que ter cuidado em não se transformar um espaço que será potencialmente
muito usado numa espécie de montra para visitas que depois acaba por ser mais
uma dor de cabeça em termos de exageros de limpeza e arrumação, acabando,
tantas vezes, por deixar de ser um espaço de convívio – daí tantas vezes se
fazerem segundas cozinhas, que são as verdadeiras, sempre que se pode (por
exemplo em moradias).
E na
cozinha há que ter especialmente cuidado com a arrumação dos alimentos e dos
mais diversos produtos e objectos usados nas lides da casa, sendo naturalmente
conveniente uma adequada separação entre uns e outros e algum desafogo que
permita arrumar os habituais grandes avios semanais ou mesmo mensais; e atenção
se a casa é grande e serve uma família grande tais espaços terão de ser especialmente
bem dimensionados.
Um
outro aspecto a ter em conta nesta última matéria da arrumação de géneros e
apetrechos para cozinhar liga-se a um hábito que parece estar em crescendo e
que é a prática do cozinhar como segunda actividade ou passa-tempo, numa passagem
de modos de viver a casa entre a cozinha que era o espaço de quem cozinhava,
praticamente, como profissão, para a cozinha de quem cozinha, periódica ou
eventualmente como paixão e como gosto específico; uma situação que deixa
totalmente de lado aquela “cozinha laboratório” onde tantas vezes a empregada,
que hoje não existe, se “desenrascava”, e uma situação que acaba por revestir a
nova cozinha de uma nova necessidade de funcionalidades bem ligadas a um amplo,
estratégico e atraente leque e arrumações – um pouco como se tratando de
um grande “brinquedo”.
Ainda
associado à cozinha outro aspecto a considerar é o apoio simplificado e
adequado a arrumações de géneros alimentares em quantidades mais significativas
– por exemplo uma saca de batatas – e o apoio especializado à arrumação de
géneros com arrumação potencialmente prolongada, mas que sejam periodicamente
manuseados – por exemplo queijos e vinhos.
Referem-se especificamente estes
aspectos pois considera-se que tais possibilidades integram, expressivamente, o
gosto de habitar e viver a casa de muitas pessoas e, assim, deverão ser
devidamente considerados em termos da concepção dos seus espaços domésticos,
proporcionando-se, assim, mais gosto no habitar diário da casa e nas suas
múltiplas facetas.
Arrumação nas casas de banho
Passando,
agora, às arrumações nas casas de banho a ideia mais importante é que
elas são fundamentais seja para apoiarem naquilo que é funcionalmente adequado
e que deve ali estar “à mão”, seja para conferirem às casas de banho um
verdadeiro sentido de “casas de banho”, agradável, envolvente e caloroso, bem
distinto do sentido frio, duro, impessoal, maquinal e quase “de jazigo”,
associado a tantas “instalações sanitárias”, que mais não são do que um
repositório “de catálogo” de peças sanitárias.
Arrumações nos quartos
Sobre
as arrumações nos quartos elas estão associadas, essencialmente, a
artigos de vestuário e a um amplo leque de objectos pessoais, sendo aqui
interessante referir que há, sempre, um aproveitamento muito mais integral do
espaço de arrumação quando se conta com roupeiros encastrados, desde que estes
sejam úteis no máximo da altura disponível no quarto e desde que,
interiormente, sejam funcionalmente organizados em diversas valências de
arrumação – pendurar vestuário, prateleiras e gavetas; a diferença em
capacidade de arrumação entre um roupeiro assim desenvolvido e outro sem este
tipo de condições é, frequentemente, muito significativa e o respectivo
investimento pode ser muito minimizado.
Roupeiros
encastrados úteis como os referidos oferecem uma capacidade de arrumação muito
superior à que está associada aos tradicionais roupeiros móveis e podem ter um
acabamento que ou fica “camuflado” com as cores e texturas aplicadas,
globalmente, no quarto, ou assume um acabamento em madeira aparente igual ao
eventualmente utilizado em rodapés e portas interiores; soluções estas
compatíveis com os diversos tipos de arranjos de mobiliário usados nos quartos.
Arrumações em espaços de circulação
As
arrumações nos espaços de circulação seguem, basicamente, o que acabou
de ser referido para as arrumações com roupeiros encastrados nos quartos,
referindo-se, apenas, que se trata de uma valência de arrumação muito útil para
os mais diversos fins e objectivos de arrumação, o que pode levar a uma
diversificação cuidada dos tipos pormenorizados de arrumação que são aqui
oferecidos. Anota-se, ainda, que poderá haver interesse em deixar espaços de
circulação “desimpedidos” de roupeiros ou armários embutidos, designadamente,
em locais estratégicos para se posicionarem elementos de mobiliário especiais e
mais cuidados, por exemplo, numa parede bem visível logo quando se entra em
casa.
Um
espaço de circulação que merece um tratamento específico em termos de
capacidade de arrumação é a zona de entrada doméstica, onde será interessante a
existência de um roupeiro embutido, para apoio a diversos tipos de arrumações
associadas à relação com o exterior, mas onde é especialmente importante a
referida possibilidade de integração de elementos de mobiliário especiais e
mais cuidados.
Fig. 02: Novas formas de arrumação em zonas de estar - interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 4, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
Arrumações nas salas
Sobre
as arrumações nas salas há que referir não se tratar de uma opção
frequente, até pela situação de se evitarem eventuais incompatibilidades
formais com a escolha de mobiliário para a sala-comum, no entanto, havendo os
cuidados de harmonização acima apontados, e considerando-se uma posição
estratégica e sóbria de um armário embutido, um elemento deste tipo poderá
revelar-se de grande utilidade na sala-comum, designadamente, no apoio à
diversificação funcional desde principal espaço social doméstico,
proporcionando, por exemplo, a arrumação prática e integral de elementos de
apoio a actividades profissionais realizadas em casa.
Ainda
nesta matéria das arrumações embutidas na sala-comum é interessante apontar as
virtualidades que tais arrumações oferecem, quer em condições de reduzida
espaciosidade global, substituindo, com vantagens práticas de muito maior
capacidade de arrumação, os tradicionais aparadores ou mesmo estantes móveis,
quer em soluções de articulação entre vários tipos de espaços, em que estes
armários embutidos servem, também, de tabiques de separação entre diversos a
sala-comum e outro compartimento ou espaço de circulação; e neste caso estes
armários embutidos poderão ser usados nas suas duas frentes. E atente-se,
finalmente, que sendo a sala-comum, basicamente, um espaço social não haverá
nestas soluções quaisquer problemas de privacidade.
Fig. 03: pormenor de arrumação em interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 4, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
Arrumações em escritórios
Os escritórios
ou saletas-escritório integrados em habitações podem ou devem ser considerados
como variações adaptativas de quartos – de certa forma também se poderá
considerar exactamente a ideia oposta, a adaptabilidade doméstica só fica a
ganhar –, e assim a existência de um roupeiro ou armário embutido deverá seguir
os aspectos acima apontados para os quartos. No entanto e como será natural a
existência de um quarto mais pequeno e, tendencialmente, mais associável a esta
função de escritório ou de saleta de recepção e de estar em sossego, neste
compartimento poderá não existir um armário embutido ou então este poderá ter
uma dimensão especialmente reduzida, de modo a ser possível realizar aqui um
arranjo de mobiliário mais caracterizado e identificável.
Despensa geral
Será,
ainda, interessante a criação de um pequeno compartimento especializado para
arrumações, uma despensa geral, tanto mais útil, quanto mais
tradicionais forem os modos de habitar e quanto maior for o agregado familiar;
e num tal compartimento é fundamental uma adequada integração de prateleiras
ergonómicas, seja no seu dimensionamento, seja no seu espaço de utilização.
Arrumações fora da habitação
E,
finalmente, sobre as arrumações fora dos espaços habitacionais específicos,
portanto situadas nas garagens comuns ou em outros sítios, a regra a aplicar é
idêntica à apontada para a despensa geral, considerando-se, no entanto, que
estas arrumações poderão ser mais espaçosas e funcionalmente diversificadas, de
forma a poderem acolher seja arrumações “sujas”, como por exemplo alguma lenha,
seja a arrumação funcional de bicicletas.
Conclui-se
esta pequena viagem pela arrumação doméstica com a dúvida de como apoiar a
arrumação funcional de bicicletas, quando não existe o referido compartimento de
arrumações fora da habitação ou outro espaço adequado e protegido em espaços
exteriores privativos; uma solução será a previsão de um compartimento ou
espaço comum, devidamente controlado, com este tipo de função.
Fig. 03: interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City
of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö
em 2001 (ver nota final) - H 4, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
References/Referências/notas
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e
que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram
recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição
habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em
2001.
Aproveita-se para lembrar o grande
interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo
“organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que
integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a
Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das
Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01
teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase
do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma
das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja
possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas
aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado
número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a
identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação
adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais
projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam
as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta,
quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em
relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de
referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 537
Artigo
LXXXI da Série habitar e viver melhor
A importância e a versatilidade da arrumação
doméstica - Infohabitar n.º 537
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.